Chove, mas como chove.
Assistia na porta que dava pro quintal, triste por não poder brincar naquela vastidão que era aquele quintal cheio de flores e mistérios, os vasos da minha Vó serem embebedados, a piscina ser preenchida e ouvia uma voz atrás de mim que dizia:
_Ohh fio, vem raspar a panela enquanto ta quente.
Era minha vó, de avental sujo de chocolate e a testa de farinha que parecia que sabia quando ia cair aquele pé d'água, ou como ela dizia "São Pedro ia fazer uma faxina", porque sempre tinha aquele prato, aquele manjar, que não importa minha idade sempre quando sentir o cheiro vou voltar a sentir o abraço quente da minha vó e seu cafuné, dizendo que não era pra eu sair na chuva pra não "gripar".
Aquele bolo de cenoura, que era quentinho, macio, saboroso e o mais importante: DE VÓ, sempre supriu minhas tardes chuvosas, acompanhado de um cafézinho e um chamego. Essa chuva poderia cair, cair e cair. Eu não me importava, contanto que ainda tivesse ela.
Mas hoje chove, Vó. Hoje chove muito. Sinto falta do seu café, do seu bolo, da sua risada, mas o mais importante eu sinto falta de você. Agora eu entendo, que quando era menor, não chovia, o céu não era o mesmo, a aguá não era a mesma.
A chuva de hoje é outra chuva, a chuva de hoje é água despencando do céu. Já a sua Vó,a sua chuva era especial, era morninha, calorosa e acima de tudo: DE VÓ. É Vó, sinto falta de você todos os dias da minha vida, toda vez que cruzo aquela cozinha vazia. Mas é isso que sinto mais falta, queria sentir sua chuva de novo, e dessa vez eu prometo me molhar.
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