Maldito dia que
descobri que aqueles fonemas
e sílabas juntas
podiam chorar, gritar e amar.
Juro que era feliz,
por completo.
Mas chegou o dia,
e ela bateu a porta.
A poesia entrou!
E me fez refém,
me botou em cheque
e disse: Escreve!
Eu obedeci.
Passara muito tempo que
ela elevou a cárcere privado
e hoje um total cativeiro.
Não era feliz,
não conseguia.
Antes de apreciá-la
jogava nas palavras.
Do mesmo jeito que
jogava todo o resto.
E assim o caldo ia
engrossando a lágrimas.
Me tornei fantoche,
um oco receptor de sentimentos
e exportador de palavras.
Mas aí então percebi.
Maldito dia que
descobri para haver-me felicidade
deve haver poesia e
para isso deve haver tristeza.
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