sexta-feira, 29 de abril de 2016

Autoestima

Não presto
Nunca prestei
Nem prestarei

Niilismo se tornou semântico ao meu nome.
Qualquer tipo de sentimento que não seja
no mínimo agoniante, desconheço.

Tenho a minha existência como maior erro.
Não por eu determinista e sim, simplesmente,
pela minha lúgubre metafísica.

Não presto
Nunca prestei
Nem prestarei

Não mereço carro fúnebre, e nem desejo festa.
De almas ocas e tristes já bastam as que vagam aqui.
Serão apenas máscaras desalegres de criaturas indiferentes.

Quando eu for, me jogue na vala mais barata,
sem caixão, sem paletó, sem eufemismos.
Apenas eu e minha completa inexistência.

Não presto
Nunca prestei
Nem prestarei

Deus não ficará feliz ao ver que não fui para o subsolo.
Tampouco irei para a cobertura, com todos aqueles calhordas.
Quero que minha alma seja enterrada junto ao corpo.

Talvez no subterrâneo de uma sociedade falida,
eu sinta algum sentimento de pertencimento.
Apenas eu e os vermes, como eu.

Não presto
Nunca prestei
Nem prestarei

Eu nunca fui príncipe, Pessoa.
Na verdade, abaixar-me da possibilidade do soco se tornou de praste.
E já perdi as contas das vezes que apanhei mesmo tendo agachado.

Não sou ideal, nunca serei ideal.
Sou verme como qualquer outro ser humano.
A diferença é que me desprendi da ilusão olimpiana.

Não presto
Nunca prestei
Nem prestarei

Cascas vazias que andam comigo juram lealdade.
Como eu almejo a falta de intelecto para ludibriar-me com isso.
Mas esse monstro anímico me lembra que sou verme.

Vejo festejarem a fétida podridão de suas existências,
e não tendo escolha me junto a eles a tal diabólico festim.
Feito moscas rodopiam em torno da nossa sociedade ideal.

Não presto
Nunca prestei
Nem prestarei

Privo-me de meus desejos naturais,
por pura idiossincrasia dos meus outros eu's,
E vejo-me triste, e meus eu's satisfeitos com tal.

Como é inato da humanidade esta dicotomia conflitante.
Cuja mente coloca duas almas em uma concha,
e espera, sem sucesso, que saia desse duelo algo mais que insanidade.

Não presto
Nunca prestei
Nem prestarei

Não tenho valor nenhum.
Não sou digno de nada, e a honra é só uma joia comprada.
Não mereço nada que não seja essencialmente desprezível.

Por tal fato, não vejo-me digno de algo tão honroso como o suicido.
Por isso, espero que o acaso e o destino se amem num momento vindouro.
Para que minha natureza seja finalmente tirada de mim, enquanto meus monstros atingem o orgasmo.

Não presto
Nunca prestei
Nem prestarei