quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Monólogo: Pai.

Ahhhh, infância. Terra dos inocentes, onde se colhe a felicidade. Lá achamos os heróis, escondidos debaixo de responsabilidades e estresse. Lá encontramos estas criaturas, até então, fantásticas. São incríveis, trabalham, cuidam da gente, fazem comida, nos limpam, sempre têm tudo sob controle. Ahhhh doce infância, ainda é pueril e não enxerga, e nem deve, a verdadeira face do vida.
Ohhhh adolescência. Terra dos pervertidos, onde se colhe a humilhação. É lá onde a vida se mostra a vadia, que ela é. Vemos que nossos santos heróis passam todos os dias por encruzilhadas e que as vezes lá poem-se a conversar. As criaturas, agora não tão fantásticas, mostram-se horrendas, falhas e o pior de tudo: humanas.
Ohhhh, a vida adulta. Fazenda de discórdia, onde se colhe desespero. A face que hoje é dada não será a de amanhã e mesmo machucada aparentará forte, intocada e retumbante. A doce mel que é o orgulho, mel esse que é de vespa. As criaturas hoje já são heróis, hoje já não são importantes e não vivem mais nos itinerários.
Ahhhh finalmente, a velhice. Deserto de dissipações, onde tudo que poderia ser colhido, foi. Entendo-vos agora criaturas, entendo-vos pois não fui perfeito; entendo-vos pois falhei porém agora percebo. Falhei pois sou humano e nada tenho de difamar-me. Hoje vejo o quanto morreram por mim até se esgotarem. A humanidade de cada é o que torna-nos únicos. Percebo agora que sou criatura também, que também fui herói e diabo mas hoje sou humano. Humano, pai. Pai, humano.

Por que estas palavras são tão antagônicas com sentidos tão iguais?

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