sábado, 19 de setembro de 2015

As tormentas espaçadas

As tormentas estão mais espaçadas. Pensei que já teria passado este mar tortuoso, ele é arisco. No momento em que você acha que chegou em águas calmas vem de fronte uma onda que quase engole o navio e te faz reconstruir tudo de novo. As tormentas estão mais fortes.

Maldita Rainha que me pois aqui. Pensei que encontraria luxo, riquezas, mulheres; mas não, vivo de rum, escorbuto e suor. Tudo por causa daquela mulher. Arrrr se um dia eu a visse de novo. Se pudesse simplesmente falar pra ela tudo que me fez passar por motivos tão pequenos que não merecem nem estarem aqui.

Os corsários me cercam todos os dias, eu me rendo todos os dias. Mas por algum motivo estranho eles se recusam a me matar. Talvez eles sejam cruéis o bastante pra perceber que continuar aqui é minha maior dor. Ou vêem que o navio não tem nenhum tesouro.

Toda manhã eu vejo minha saída deste inferno que boia, aquelas ilhotas sempre me confundiram. Como conseguem se camuflar tão bem a ponto de acharmos seguros para descer. Talvez seja o canto das serias que me traga aqui.

Eu me apaixonei por uma sereia uma vez. Pior decisão já feita. A peguei cantando pro segundo imediato logo depois de mim. Eu também fingi que não vi quando ela o levou pro fundo do mar, dói menos.

Escrevo isto porque não tenho mais esperanças, espero que quando alguém encontrar, por favor, ache-a! E traga-me! Porque um marujo sem riquezas tudo bem, mas um homem sem esperanças não é um homem. É apenas um morto que ainda não se deitou.

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