sábado, 9 de janeiro de 2016

Notei que durante a noite
uma fumaça se elevava
entre nossos corpos amontoados.
Lembrei-me das aulas de química,
e como é fascinante saber que
o simples toque entre dois elementos poderosíssimos
poderia causa tal reação capaz de mudar a matéria a sua frente.

Olhei de volta pro teu corpo,
a única certeza que tive era
que o que exalava,
não era cloreto de amônio.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Victor Hugo

Eu acordei avesso
tão avesso que acordei feliz,
e do outro da lado cama.

Não queria mais viver triste.
Não queria meus velhos pensamentos.
Nem os pesos no peito.

Acordei feito passarinho,
disposto a voar.
Disposto a encontrar seu lugar.

Então peguei no sono,
acordei não existia mais cama.
Acordei não existia mais feliz.

A tristeza tomou conta feito um corvo,
que toma o ninho de eu rouxinol.
Talvez nem todos foram feitos pra felicidade.


sábado, 28 de novembro de 2015

Poema sobre o mal gerenciamento do abastecimento de água na gestão do Alckmin.

Meu coração é uma caixa d'água.
Não cabe muito, na verdade é simplória
e serve pra um coisa só.
Mas feito cisterna se enche na chuva.

Se cada gota que caíra
pudesse contar nossa história,
me encontraria feliz em lhe abastecer
enquanto o Cantareira descansa.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

I have the right to live
I have the right to write
I have to write to live
That's what makes write so right

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Sonhar — amar; amar, talvez sofrer.

"Morrer — dormir; dormir, talvez sonhar".
Sonhar  amar; amar, talvez  sofrer.
O ideal persegue de tal maneira a minha mente que ela se tornou um antro de ninhadas e ninhadas de ideias. Elas que pulam, gritam, saltam e se agitam reverberando o ,já, eco da maldição. 
Platão não quis se referir a pessoas como eu quando se referiu ao amor. Ele para o filósofo lutador é a busca pela beleza, em sua essência. Talvez esse seja o problema, acha coisa mais bela que o perfeito? Acha coisa mais perfeita que o ideal? Acho coisa mais ideal do que o inexistente?
Todo poeta se encontra em uma dessas fases. Pablo Neruda em seu auge escreveu Bela, que nada mais nada menos se refere a uma mulher, que pra ele naquele momento era o forma da perfeição.
"Quem dera eu achasse um jeito 
de fazer tudo perfeito, 
feito a coisa fosse o projeto 
e tudo já nascesse satisfeito"
Mário Quintana prova aqui a segunda fase da poesia, a eterna procura pelo ideal. Ele só declara que sua perfeição é inatingível, ou seja ideal. 
E por fim, um dos meus poetas favoritos, Fernando Pessoa mostra aqui fazer parte da terceira fase poética denominada nessa tentativa de aprofundamento lírico. 
"Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já me não dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou

E hoje é já outro dia."
Não acho jeito melhor expressar o amor ao inexistente do que buscar a beleza em tudo aquilo que passou ou que vai passar. Aqui o Ideal, o Perfeito e o Amor se mesclam em um ballet não sincronizado mas de qualquer jeito belo.
Encerro agora esta tese mequetrefe que não teve base, nem argumentação com uma conclusão mais abstrata ainda.

"Enquanto não atravessarmos
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
necessário ser um."

-Fernando ,sempre me cativa.

Somente aquele que entende o nada enxerga o tudo.


quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Maldito filósofo grego.

Deixando claro,
eu não tenho poder
nenhum sobre você.
Você é sua, e apenas.
Mas por mim:

Pode ser santa,
piriguete;
Pode ser donzela,
heroína;
Pode ser moça,
velha;
Pode ser plebéia,
rainha.

Queira fira,
ferida;
Queira ame,
amada;
Queira peralta,
tranquila;
Queira sonsa
apaixonada.

Lhe clamo uma coisa
que me poupará muita dor,
por mais que eu seja lacônico,
de tudo que possas ser;
de tudo que possas fazer
só não seja platônico.

sábado, 31 de outubro de 2015

Meu amigo José.

_José, cadê você? - pergunta ao celular.
_No mesmo lugar de sempre, por quê?
_Porque eu te conheço há 16 anos e eu sei quando você vai fazer merda.

A ligação cai. João encontra José.

_Que que você ta pensando?
_Eu, João? O que você está pensando?
_Seu psiquiatra me ligou. Eu sei o que está acontecendo.
_Ótimo, então não vai tentar me impedir.
_José, você é forte, inteligente, não pode se deixar abater por qualquer coisa não.
_ Ai ai - ri descontroladamente- é irônico você usar meu nome justamente antes de falar isso. Maldito Carlos Drummond de Andrade, me amaldiçoou com este poema.
_Como assim?
_João, sabe quantas vezes eu tentei acreditar nisso, que eu sou duro, que eu marcho? Sabe quantas vezes me vi no "a festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu"? Mas de todas aquelas estacas que vocês chamam de versos, uma só foi agoniante o bastante pra me deixar sem sono. Nunca achei resposta pra tal. Nunca achei razão, muito menos vontade de procura-la. 
_Qual?
_Você sabe que eu não acredito em horóscopo. Como de praste, não acredito nem em deus, vou por fé em umas luas e estrelas. Mas voltando, eu nunca acreditei em horóscopo, desde pequeno eu sempre soube que aquilo era feito de modo ambíguo para que pareça que aconteceu mas na verdade são todos iguais com palavras diferentes, são todos falsos, são todos distração. 
_O que isso tem a ver?
_Eu lia o horóscopo todos os dias, não sei o porquê. Só fazia. Vai ver era falta do que fazer, ou um pequeno faixo de esperança de encontrar esperança, anyway. Eu li, todos os dias o que aconteceria com Escorpião. Você vê, eu não acreditava naquilo, eu não gostava daquilo mas mesmo assim estava eu lá para mais um jornal, para uma falácia.
_José, você não está mais fazendo sentido.
_Eu nunca acreditei na vida. Mas como eu disse: eu decidi parar de ler o horóscopo.

João sem reação, deixa seu gauche amigo naquele lugar lúgubre. Sem antes abraçá-lo e dizer que o ama. Foi tomar um cerveja, foi continuar sua vida.

_João, joão...algum dia saberás.

Em algum bar sujo há quadras do acontecimento, João finalmente entendeu, depois de alguns copos.

_ José, e agora?
   José, para onde?


segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Os trens de Sumidouro

Escrevo todos os dias na minha cabeça.
Mas parece que quando
vou buscar os textos no fundo dela,
eles já correram pra mente de outro.

Talvez eu não fosse o suficiente.
Foram pros mais felizes,
pros mais tristes.
Eu continuo mediano, aqui. Gauche.

Só assistindo essa imensa estação
"intercabeçária" entre minhas orelhas.
Enquanto as palavras transitam
e meu coração parte.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Monólogo: Pai.

Ahhhh, infância. Terra dos inocentes, onde se colhe a felicidade. Lá achamos os heróis, escondidos debaixo de responsabilidades e estresse. Lá encontramos estas criaturas, até então, fantásticas. São incríveis, trabalham, cuidam da gente, fazem comida, nos limpam, sempre têm tudo sob controle. Ahhhh doce infância, ainda é pueril e não enxerga, e nem deve, a verdadeira face do vida.
Ohhhh adolescência. Terra dos pervertidos, onde se colhe a humilhação. É lá onde a vida se mostra a vadia, que ela é. Vemos que nossos santos heróis passam todos os dias por encruzilhadas e que as vezes lá poem-se a conversar. As criaturas, agora não tão fantásticas, mostram-se horrendas, falhas e o pior de tudo: humanas.
Ohhhh, a vida adulta. Fazenda de discórdia, onde se colhe desespero. A face que hoje é dada não será a de amanhã e mesmo machucada aparentará forte, intocada e retumbante. A doce mel que é o orgulho, mel esse que é de vespa. As criaturas hoje já são heróis, hoje já não são importantes e não vivem mais nos itinerários.
Ahhhh finalmente, a velhice. Deserto de dissipações, onde tudo que poderia ser colhido, foi. Entendo-vos agora criaturas, entendo-vos pois não fui perfeito; entendo-vos pois falhei porém agora percebo. Falhei pois sou humano e nada tenho de difamar-me. Hoje vejo o quanto morreram por mim até se esgotarem. A humanidade de cada é o que torna-nos únicos. Percebo agora que sou criatura também, que também fui herói e diabo mas hoje sou humano. Humano, pai. Pai, humano.

Por que estas palavras são tão antagônicas com sentidos tão iguais?

sábado, 19 de setembro de 2015

Um burro falando errado é ignorância.
Um intelectual falando errado é ironia.